quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mas a semente, apesar do solo inóspito, germinou.

Tendo enfim encontrado uma mente que fez inquietar a minha, pus-me a imaginar como seria o ensino que eu não tive. Não tardei a concluir que esse tal ensino nada tinha a ver com o que eu vinha tendo na Universidade. O curioso é que eu, um reles estudante, um sobrevivente da barbárie pré-acadêmica nos bancos dos ensinos Fundamental e Médio, de repente me via como um ser dotado de sabedoria e discernimento, capaz, veja só, de questionar o ensino que a Universidade vinha me oferecendo. Mas foi bem isso que aconteceu.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Faça-se a luz!

Tudo corria como o de sempre até que um dia pintou um professor magricelo. O cara entrou na sala para ministrar a disciplina Leitura Crítica, que, entre outras coisas, propõe ensinar o aluno a ler nas entrelinhas, a estar atento às mensagens subliminares do texto, sobretudo o literário. E de repente lá estava ele falando de Galileu, Copérnico, Cristo, Einstein, Nero, Zeus, Freud. Minha mente atrofiada, até então acostumada ao raciocínio raso e incapaz de “enxergar um palmo à frente do nariz”, foi logo sentenciando: o cara é maluco, o que toda essa gente tem a ver com ensino de Literatura e Língua Portuguesa?
Esse cara, até hoje penso, foi um ET que baixou na Terra por uns instantes para nos dizer: “Como acadêmicos, vocês são pensadores em cujas mãos está o poder de propor mudanças e precisam agir como tal”.

Essas palavras operaram em mim um verdadeiro milagre. Finalmente alguém disse o que eu esperava ouvir. Finalmente alguém me fazia sentir o que eu esperava sentir enquanto aluno de curso superior. Finalmente eu me via como alguém capaz de contribuir de alguma forma para o progresso da sociedade que me concedera a oportunidade de freqüentar o círculo acadêmico.

A partir de então aprendi, com esse cara, a ter senso crítico. Sabe-se lá o que é isso? Talvez esteja para o espírito humano como a descoberta do fogo está para a história da humanidade. Chegara para mim o grande dia do “faça-se a luz!” (o Fiat Lux do Gênese bíblico).

Infelizmente aquele cara, o suposto ET, não ficou conosco muito tempo. Teve que tirar o time de campo por, entre outras razões, “reprovar alunos demais”*, e ficamos à mercê daqueles que fazem bom uso do discurso, adoram falar em ensino público, gratuito** e de boa qualidade, mas na prática andam de marcha-à-ré, praticando o não-ensino, a não-formação-de-profissionais-aptos-a-propor-mudanças-em-sua-área-de-atuação.

*O Cara “ousava” reprovar alunos num período em que o Governo, para ser bem visto pelos investidores (países do 1º mundo) e órgãos internacionais (UNESCO, ONU e cia.), extinguira a reprovação. Imagine a satisfação dos gringos ao folhear o relatório do Governo e ler que no Brasil o índice de reprovação é zero. Com essa “jogada de gênio”, o país saíra da lista negra onde figuravam os países que pouco se preocupam com a educação para figurar no ranking dos países que levam a educação a sério, muito sério. É brincadeira?

**Falar em ensino gratuito é de uma ingenuidade ou cinismo sem tamanho. De onde vem o dinheiro que o governo aplica nas instituições da rede pública de ensino? Acaso não é do nosso bolso, via pagamento de impostos? Então não faz o menor sentido empregar o termo gratuito como referência ao ensino ministrado nessas instituições. Nós pagamos para estudar, sim senhor!