segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Murmúrios nos corredores.

No final, pontos para a professora-doutora.

Já às vésperas de um seminário de Literatura, estando próximos do grande encontro com o diploma, meus ouvidos atentos ouviam de colegas lamentos do tipo: “pôxa vida, já estou terminando o curso de Letras e ainda não sei o que é Romantismo. Se for dizer com minhas palavras, estou frito(a)!”. Pois bem, foi de tanto ouvir pelos corredores conversas desse tipo que no dia do tal seminário me enchi de coragem e na hora do meu discurso desabafei.

Tudo ia bem enquanto eu metia o pau no Ensino Fundamental e detonava o Ensino Médio. Eram só aplausos e vivas. Bastou, entretanto, esticar a crítica para o âmbito universitário para “o leite derramar”. E quando afirmei categoricamente para mais de 45 colegas que ninguém ali saberia dizer com suas próprias palavras (meu Deus, com suas próprias palavras) o que era o Romantismo, passei de grande autoridade em matéria de crítica a asno antipático.

Fiz então um desafio a um colega mais exaltado (sempre tem aquele mais “intelectualizado”), que se dizia indignado com minha afirmação. Sem hesitar, disse a ele que nós (eu e o restante da turma) estávamos esperando que ele conceituasse com as próprias palavras o tal do Romantismo. Ele começou, patinou, engasgou e por fim atolou num categórico silêncio, dando-me inteira razão. Minha suposta medíocre generalização tornara-se comprovadamente um fato.

Mas engana-se quem conclui apressadamente que no final os pontos foram para mim. Que nada. A professora-doutora, muito esperta (ah! isso eles são) esperou que o seminário terminasse para fazer uso da palavra (até então ela não dissera um a). Gastou todo o seu vasto repertório de artifícios retóricos e ao final foram só aplausos. Ela foi aclamada de pé ao dizer, entre outras coisas, que o que eu havia dito não se aplicava a ela, uma profissional preocupadíssima com a qualidade do ensino, portanto a carapuça não lhe servia. Não me recordo muito bem agora, mas não seria exagero dizer que lágrimas de emoção rolaram. Vai falar bem assim “lá na casa do chapéu!”, pensava eu.

Resumindo a ópera, o que eu disse caiu no abismo sem fim do nada. Como sempre. E tome-lhe Provão. Dê-lhe Enem.

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