quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os burros mais geniais do universo.

Nada poderia ser mais instigante para uma mente questionadora do que ouvir “profissionais do ensino” afirmando o tempo todo: “Vocês são burros. Não sabem ler, escrever, muito menos pensar!”. Quantas vezes ouvi isso? Só Deus sabe. Mas por que afirmavam isso? Essa me parece ser uma pergunta bastante razoável para um espírito inquieto. E minha mente inquieta sempre respondia: “de duas uma, ou você está sendo chamado de incapaz ou está sendo motivado a reagir!”. Ora, reagir como? Com o que a Universidade deixava de ensinar? Com o que aqueles mesmos “profissionais” que nos acusavam de ineptos não nos ofereciam? Então só sobrava uma opção: nós éramos realmente burros.

Mas se éramos, por que, cargas d’água, exigiam de nós o que só se exige dos gênios? Você, amigo(a) que me lê, estudante de Letras, seria capaz de imaginar alguém que não sabe ler, nem escrever, nem pensar, explicando, “com suas palavras”, a relação significante-significado e tantos outros conceitos da Linguística, a partir das palavras de um Saussure, um Chomsky, um Peirce? Pois bem, era o que exigiam de nós. E era um deus-nos-acuda, longas e longas noites sem dormir (quanto tempo perdido por nada) tentando decorar o discurso dos “grandes linguistas”, que aprendi a odiar, sobretudo o Chomski porque a professora brigava nas aulas quando alguém pronunciava incorretamente o nome dele.

Quando entregávamos os trabalhos (as perguntas devidamente respondidas no mais puro estilo decoreba), era uma salva de palmas, uma cerimônia muito parecida com a entrega do oscar hollywoodiano. A professora beirava o orgasmo ao ler respostas brilhantes, “verdadeiros tesouros do saber linguístico”, que na verdade muito pouco ou nada tinham de mim, de nós, mas quase tudo, ou tudo mesmo, de Saussure, Chomsky, Peirce e cia. Por instantes éramos os burros mais geniais do universo. E a professora era a própria personificação da felicidade, da satisfação, da “sensação do dever cumprido”. Não-cumprido, na minha concepção. Mas se ela estava feliz, quem era eu para pôr água no champanhe? Deixemo-la então deitar no berço esplêndido da ingenuidade ou do cinismo de considerar que nossas respostas eram fruto de algum aprendizado.

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